Carta do Gestor Mar/24

Cenários e perspectivas

Cenário Econômico Internacional

Segundo o “Payroll”, principal relatório do emprego não-agrícola nos EUA, reportou a criação de 303 mil vagas de trabalho em março de 2024, ante a expectativa de 200 mil vagas, aumentando as tensões referentes as pressões inflacionárias, com possível adiamento do tão esperado corte de juros básicos. Na contrabalança, a taxa de desemprego registrou 3,8%, pouco abaixo das expectativas.

Do lado da inflação, o IPC de março (10/4) apresentado foi de 0,4%, acima das projeções no patamar de 0,3%. O núcleo da inflação, excluindo os efeitos sazonais, seguiu a mesma linha. Desta forma os agentes de mercado entendem que isso amplifica os desafios do FED na condução da política monetária. As apostas de que os juros nos EUA deverão sofrer cortes a partir de junho de 2024, registradas na CME Group, apontam que 95,9% dos analistas não esperam corte de juros na próxima reunião de junho de 2024.

Na prática, o fluxo financeiro para o financiamento da dívida norte-americana deve aumentar, pressionado a taxa de câmbio e a curva de juros futura, parcialmente atenuado pela antecipação das expectativas no decorre do mês de março. O índice da bolsa S&P500 registrou altas de out/23 a mar/24 de 27,3%, propenso a realizações de lucros. Os bonds do tesouro com duração de 20 anos passaram a ofertar 4,7% ao ano ante 4,4% a mês atrás e 3,7% a 12 meses.

Na Zona do Euro, o destaque ficou para a melhora do índice de confiança do consumidor pelo sexto mês seguido de -10,5 pts para -5,9 pts, melhor patamar dos últimos dois anos. O índice das expectativas subiu para 5,0 pontos em abril, de -2,3 pontos em março, sétimo mês consecutivo de aumento e o valor mais alto desde fevereiro de 2022, entretanto a Alemanha, maior economia da região, mantém a baixa atividade econômica, com o setor industrial pesando na conta. Em razão da melhora do humor do consumidor, o BCE resolveu (7/3) manter a taxa de juros em 4,0% ao ano, sendo as taxas de refinanciamento e empréstimos 4,5% e 4,75% ao ano respectivamente. Vale pontuar sobre o risco geopolítico da região, os quais inibem parcialmente o fluxo de investimentos de longo prazo.

Do lado da China, o Governo comprometeu-se a alcançar uma taxa de crescimento ambiciosa, com base em inovação tecnológica. No cômputo, a forma como Pequim implementará seu plano de investimentos permanece incerta. Os gestores temem que a resistência a quaisquer medidas de estímulo importantes para aumentar o rendimento e o consumo decepcionou os investidores. Quanto a China, as metas estabelecidas pelo Governo (10/3) indicam para a criação de mais de 12 milhões de empregos em áreas urbanas e manter a taxa de desemprego urbano pesquisada em cerca de 5,5%. O país alveja gastar mais de 1,66 trilhão de yuans (US$ 234,5 bilhões) em defesa, alta de 7,2% e estabelece uma meta de inflação de cerca de 3% em 2024. Cabe frisar que a aversão ao risco frente ao receio do desemprego e queda da renda permanecem, denotando retração no segmento imobiliário.

Cenário Econômico Doméstico

No Brasil tudo indica que o ciclo de corte da Taxa Selic deverá atingir o patamar de 9,0% em set/24, segundo as projeções Focus (9/4). A inflação projetada encontra-se no patamar de 3,76% convergindo para a meta do CMN, que é de 3,0% ao ano. A projeção para a taxa de câmbio permanece estável na casa dos R$ 4,95. No computo, muitos analistas de mercado divergem das projeções, devido a maior preocupação com os gastos públicos e as pressões externas, advindas das elevadas taxas de juros nos EUA. Há uma linha de economistas que projetam a Selic em 10,0% ao ano e uma taxa de câmbio de USD/BRL R$ 5,10, com redução relevante do humor. Em meio as divergências o IPC-A de mar/24 registrou inflação de 0,16% bem abaixo do esperado em 0,25% e, o acumulado em 12 meses, ficou em 3,93% ante os 4,01% projetados.

No campo da política fiscal o resultado do déficit primário em fevereiro foi – R$ 58,4 bilhões, tendo pesado a ausência dos dividendos extraordinários da Petrobras e o pagamento de precatórios, parcialmente compensados pela maior arrecadação de impostos. De qualquer forma a tese para o atingimento do “déficit zero” ao final de 2024 fica cada vez mais distante da realidade. Ao final da linha o Governo acumula no 1° bimestre um superávit de R$ 38,3 bilhões, o que mantem certa estabilidade no curto prazo.

1. Estratégia das Carteiras

Alteramos a política de capturar resultados com a tendencia de queda de juros, com maior exposição nos títulos pré-fixados, para a realocação gradual para em títulos privados e FIDCs pós-fixados, cujos prêmios e a relação risco sobre o retorno são mais atraentes no momento. Ao mesmo tempo, seguimos na renda variável em razão do grande desconto verificado nas principais ações no Brasil.

1.1 Renda Fixa

No momento, aumentamos as aquisições de emissões privadas pós-fixadas com intuito de aproveitarmos os maiores prêmios pelo risco, justificadas pela compressão nas taxas pré-fixadas, que já precificaram o término do ciclo de queda da Taxa Selic.

1.2 Renda Variável

No mês de março otimizamos alguns resultados realizando lucros em algumas ações e realocamos os recursos em empresas mais resilientes e menos sensíveis as oscilações das taxas de juros como as dos setores de comunicação e de seguros, respeitando o custo de oportunidade. A proporção de caixa (proteção) no momento encontra-se na ordem de 5% da carteira.

a. Carteira internacional

Nas carteiras internacionais, permanecemos investindo em empresas com forte estrutura de capital e upsides relevantes, privilegiando os retornos sobre investimentos (ROIC) mais elevados entre outras métricas de segurança. Continuamos com a postura de aproveitar o stress na curva de juros investindo em títulos e ETFs com durations de 10 e 20 anos.

2. Conclusão

Diante do exposto, tanto o cenário doméstico quanto o cenário internacional demandam maior atenção no curto prazo. No Brasil, o ponto de alerta sobre a condução da Política Fiscal permanece, contudo, a arrecadação surpreendeu positivamente, cabendo monitorar a continuidade da tendencia.

Quanto ao cenário internacional, o foco segue nas decisões do FED sobre o início do ciclo de cortes juros, que deverá acontecer a partir do 2° semestre. Na Europa a taxa de juros deverá permanecer por um prazo mais longo do que o previsto. Na China seguem as dúvidas quanto à intensificação da Crise Imobiliária e as dificuldades de crescimento, dependendo de novos estímulos governamentais. Adicionalmente, continua a escalada das tensões no campo geopolítico, o que aumenta a sensibilidade ao risco. Nesse contexto, a atividade econômica deverá ser menor.

A gestão segue priorizando a preservação de capital e o rigoroso controle de riscos. A disciplina na busca por ativos de qualidade com fundamentos fortes encontra-se preservada.

Renan S. Silva
Gestor, CGA

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