Carta do Gestor Fev/24

Cenários e perspectivas

Internacional

Nos EUA o “Payroll”, principal relatório do emprego não-agrícola, reportou a criação de 275 mil vagas de trabalho em fevereiro de 2024, ante a expectativa de 200 mil vagas, aumentando as tensões referentes as pressões inflacionárias. Na contrabalança, a taxa de desemprego subiu para 3,9%, após três meses de estabilidade em 3,7% além das estimativas, justificada pelas revisões para baixo nos relatórios de dezembro e janeiro. Em dezembro houve redução de 43 mil no número anunciado, de uma criação de 333 mil vagas para 290 mil vagas. A variação de janeiro foi revista em -124.000, de 353 mil para 229.000. Com estas revisões, o emprego em dezembro e janeiro combinados ficou 167.000 inferior ao reportado anteriormente. Desta forma os agentes de mercado continuam suas apostas de que os juros nos EUA deverão sofrer cortes a partir de junho de 2024. Cabe pontuar que um grupo menor de analistas entendem que os juros não serão cortados no ano corrente.

Na Zona do Euro, a economia ficou estagnada nos últimos três meses de 2023 em relação ao trimestre anterior. Depois que a produção da zona do euro contraiu 0,1% no terceiro trimestre sobre os três meses anteriores, o resultado do quarto trimestre evita por pouco uma recessão técnica. Já a maior economia, a Alemanha, ainda contraiu 0,3% na comparação trimestral, enquanto a França, segunda maior, ficou estagnada. Tanto para Powell (Federal Reserve) quanto para Lagarde (BCE), não há dados suficientes para a definição de quando o ciclo de cortes de juros deverá começar, entretanto ambos concordam que confiança sobre o controle inflacionário melhorou.

Do lado da China, o Governo comprometeu-se a alcançar uma taxa de crescimento ambiciosa, com base em inovação tecnológica. No cômputo, a forma como Pequim implementará seu plano de investimentos permanece incerta. Os gestores temem que a resistência a quaisquer medidas de estímulo importantes para aumentar o rendimento e o consumo decepcionou os investidores.

No dia 5/3, o primeiro-ministro chines anunciou a meta de crescimento de cerca de 5% para 2024, o que não será fácil. O fato é que depois que as metas foram anunciadas na terça-feira, o índice Hang Seng de Hong Kong caiu 2,6%. Na semana, ele recuou cerca de 1% e perdeu quase 20% nos últimos 12 meses. Temos que considerar que os riscos advindos do setor imobiliários não foram diluídos. A aversão ao risco frente ao receio do desemprego e queda da renda permanecem, denotando retração no segmento imobiliário.

Brasil

No Brasil tudo indica que o ciclo de corte da Taxa Selic permanecerá até o patamar de 9,0% em set/24. A inflação projetada encontra-se no patamar de 3,76% convergindo para a meta do CMN, que é de 3,0% ao ano. A projeção para a taxa de câmbio permanece estável na casa dos R$ 4,93.

Apesar das preocupações com as contas do Governo, a arrecadação de janeiro foi bem acima do esperado, mas não o suficiente para a promessa de déficit primário “zero”. O déficit primário projetado é de -0,78% do PIB e o déficit  nominal, incluindo o pagamento de juros é de -6,9% do PIB, o suficiente para manutenção da tendência de queda de juros. A frente do término do primeiro trimestre de 2024, verificamos uma melhoria nas taxas de desemprego e da
renda, assim como no grau de endividamento da família. Vale reforçar que há uma aversão ao risco político considerável, refletido nos Índices de renda variável (Ibovespa: -6,0% no ano).

1. Estratégia das Carteiras

Seguimos com a estratégia de capturar resultados com a tendencia de queda de juros, com maior exposição nos títulos pré-fixados. Diante do exposto, a política de maior exposição a renda variável foi descontinuada até novas avaliações de cenários.

1.1 Renda Fixa

Continuamos privilegiando os títulos públicos federais, contudo em menor grau. No momento, aumentamos a aquisições de emissões privadas com intuito de aproveitarmos os maiores prêmios pelo risco, devido a tendência de queda dos juros. Para o mês de abril, a estratégia para otimização dos resultados mediante da queda dos juros será alocar de forma gradual, em Debentures de emissão de empresas listadas em bolsa de valores (governança), contudo, mantendo a qualidade do risco de crédito da carteira.

1.2 Renda Variável

As alocações permanecem prestigiando os setores essenciais, entretanto, aumentamos as posições nas empresas mais sensíveis a queda dos juros, como as do setor de varejo, de construção civil e de educação. A proporção de caixa (proteção) no momento encontra-se na ordem de 10% da carteira.

a. Carteira internacional

Seguimos com a estratégia de alongamento dos prazos médios da carteira, com duration entre 7 e 10 anos e entre 10 e 20 anos, otimizando os resultados em razão da expectativa de corte de juros nos EUA a partir do mês de junho.

2. Conclusão

O cenário de curto prazo segue inalterado com relação a continuidade dos cortes da Taxa Selic, possibilitando ganhos relevantes, contudo, o ponto de alerta sobre a condução da Política Fiscal permanece. Nesse sentido, seguimos com forte disciplina no acompanhamento dos resultados do Tesouro.

A respeito do cenário internacional, na Europa a taxa de juros deverá permanecer elevada por um prazo mais longo do que nos EUA. Na China as dificuldades de crescimento seguem e não há certeza quanto a novos estímulos governamentais para aumento da atividade econômica. Ademais, temos o aumento das tensões no campo geopolítico, o que aumenta a sensibilidade ao risco. Nesse contexto, a atividade econômica deverá ser menor, afetando as exportações de commodities.

Por outro, com os juros globais estagnados, os títulos do Brasil seguem atrativos e não devemos ter interrupção do fluxo de capital estrangeiro no curto prazo, tanto para a renda fixa como para a renda variável. Vale frisar que o Brasil se encontra distante da zona de guerra e apresenta condições macroeconômicas favoráveis no curto prazo. No longo prazo, ainda pesam as incertezas quanto a política fiscal e o embate político.

A gestão segue priorizando a preservação de capital e o rigoroso controle de riscos. A disciplina na busca por ativos de qualidade com fundamentos fortes encontra-se preservada.

Renan S. Silva
Gestor, CGA

DISCLAIMER
O material apresentado é de caráter exclusivamente informativo. A Bluemetrix Asset não se responsabiliza por qualquer decisão tomada pelos investidores. O investidor deve analisar muitos outros fatores não presentes  nessa carta e que devem ser levados em conta para tomar suas decisões. O material não deve ser distribuído ou comercializado para terceiros sem o consentimento da Bluemetrix Asset. Esta carta não se caracteriza e não deve ser entendida como consultoria jurídica, contábil, regulatória ou fiscal em relação aos assuntos aqui tratados. O material não deve ser entendido como uma suposta solicitação de compra ou venda, oferta ou recomendação de qualquer ativo. A Bluemetrix Asset não se responsabiliza por qualquer erro presente na carta.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *