Carta do Gestor Abr/24

Cenários e perspectivas

1. Cenário Econômico Internacional

Nos EUA as controvérsias quanto ao início do ciclo de cortes na taxa de juros permanecem. Na prática, o FED espera algum sinal de desaceleração da inflação em meio a forte resiliência da economia. O IPC anualizado encontra-se em 3,5% ao ano ante a meta inflacionária de 2,0% ao ano.

No momento (10/5), o Índice de Confiança do Consumidor registrou queda significativa (66,5 pts. ante 75 pts.), corroborando com a tese de que a inflação do último trimestre sofre com sazonalidades, aumentando a probabilidade de pelo menos um corte de 0,25% na taxa de juros no decorrer de 2024. Nesse contexto, as bolsas no EUA seguem precificando a queda de juros, sendo que Dow Jones (DJI) apresenta alta de 18,25% nos últimos 12 meses e o S&P500 26,23% no mesmo período (base 10/5).

Na Zona do Euro, os membros do BCE indicam que os cortes na taxa de juros deverão ter início a partir do mês de junho, em razão, principalmente, da baixa atividade no setor de manufatura, em especial na Alemanha.

Quanto a China, a desaceleração do crescimento é um reflexo da Crise Imobiliária e indica um novo padrão, atenuada pelo setor de tecnologia e novos projetos ligados a economia verde, como por exemplo a exportação de carros elétricos. Ao longo da próxima década, economistas projetam que a economia chinesa deve crescer em média entre 3,5% e 4,5% ante a meta de 5,5% para o ano corrente. Segundo declarações, o governo chines não acredita num crescimento baseado em consumo das famílias ou no aumento da demanda, sendo que o crescimento virá dos setores de alta tecnologia, que devem gerar repercussões positivas para o restante da economia.

2. Cenário Econômico Doméstico

No Brasil, as projeções para a Taxa Selic terminal atingiram o patamar de 9,75% a.a. contra os 8,5% a.a. registradas em janeiro/24. Hoje (10/5), o IPC-A registrou inflação de 0,38% em abr/24, com a taxa anualizada atingindo 3,69%, comparativamente, a taxa projetada (Focus/Bacen) encontra-se no patamar de 3,72% ainda convergindo para a meta do CMN (3,0% a.a.), mas com clara deterioração. Do lado do câmbio, a projeção para dez/24 aumentou de R$ 4,98 para R$ 5,00, podendo contribuir para maior pressão inflacionária, em especial no IGP-M.

Em geral, as preocupações com os gastos públicos e as pressões externas seguem, justificando a redução do ritmo dos cortes da Selic de 0,5% para 0,25% por parte do Copom/Bacen. No momento (8/5), a Taxa Selic atingiu os 10,5% a.a. com forte divergência entre os membros do Copom, o que levou a um stress moderado na curva de juros futuras e arrefecimento no Ibovespa. Cabe reforçar que o novo padrão de corte nos juros na ordem de 0,25% já estava precificado pelos agentes de mercado, entretanto, as divergências no Copom (5 votos x 4 votos), denotaram pressões políticas adicionais.

A respeito da bolsa de valores, o Ibovespa sofre com as taxas de juros altas no Brasil e nos EUA, tendo registrado variação negativa de -3,58% no ano de 2024 (base de 10/5). Vale frisar que os resultados das empresas listadas têm apresentado resultados acima da expectativa e P/L médio abaixo de 10 anos, denotando forte desconto. Esses resultados estão alicerçados na melhora marginal do emprego, da renda e do endividamento da família, justificando, inclusive, a projeção do PIB para 2024 de 2,2%.

3. Estratégia das Carteiras

3.1 Carteira de Renda Fixa

As aquisições de emissões privadas pós-fixadas com intuito de aproveitarmos maiores prêmios pelo risco, estão mantidas, justificadas pela compressão nas taxas pré-fixadas que já precificaram o término do ciclo de queda da Taxa Selic e pela deterioração parcial do cenário fiscal no Brasil.

3.2 Carteira de Renda Variável

Continuamos com o processo de realocação estratégica da Carteira em razão do ambiente mais austero, com a taxa Selic terminal em 9,75% a.a., bem acima da projetada pelo mercado em janeiro do ano corrente na ordem 8,5% a.a..

Em abril seguimos realizando lucros e realocamos os recursos em empresas mais resilientes com upsides maiores e menos sensíveis as oscilações das taxas de juros como as dos setores de energia elétrica, comunicação e de serviços financeiros. A proporção de caixa (proteção) no momento encontra-se na ordem de 10% da carteira.

3.3 Carteira internacional

Essencialmente, a economia robusta nos EUA tem propiciado maiores prêmios na Renda Variável. Nas carteiras internacionais prevalece a maior aderência ao S&P500 e investimentos em empresas com forte estrutura de capital, privilegiando os retornos sobre investimentos (ROIC) mais elevados entre outras métricas de segurança.

Continuamos com a postura de aproveitar o stress na curva de juros, relativo ao adiamento do corte de juros nos EUA, investindo em títulos e ETFs com durations de 10 e 20 anos, os quais têm apresentado ganhos históricos relevantes em dólar, contudo mantendo o rigor na análise de crédito.

4. Conclusão

Posto isto, os cenários doméstico e internacional permanecem desafiadores, demandam maior atenção. No Brasil, apesar da arrecadação de impostos ter surpreendido positivamente, pesam a alteração da meta fiscal e a deterioração da relação dívida/PIB.

Adicionalmente, a tragédia ambiental verificada no Estado do Rio Grande do Sul aumenta as incertezas quanto a inflação de alimentos (soja, arroz e proteínas) e aos gastos públicos adicionais não recorrentes, reforçando a tese de maior resiliência na renda fixa (pós) e na renda variável (setores essenciais).

Quanto ao cenário internacional, o foco segue nas decisões do FED sobre o início do ciclo de cortes juros, que poderá acontecer a partir do 2° semestre, quando poderemos observar uma inversão do fluxo financeiro para bolsa brasileira, devido ao forte desconto em dólar.

A gestão segue priorizando a preservação de capital e o rigoroso controle de riscos. A disciplina na busca por ativos de qualidade com fundamentos fortes encontra-se preservada.

Renan S. Silva
Gestor, CGA

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