Carta do Gestor Nov/23

Cenários e perspectivas

Cenário Econômico Internacional

Os Estados Unidos mantiveram, no último mês, sua taxa de juros entre 5,25% e 5,5%, reiterando o compromisso de direcionar a inflação para 2%, por meio de uma política monetária restritiva. O Federal Reserve enfatizou que os efeitos anteriores do aperto monetário ainda estão por ser completamente sentidos, monitorando cautelosamente a situação econômica do país. As discussões abordaram diversos aspectos econômicos, destacando a desaceleração do setor imobiliário, embora o mercado de trabalho permaneça robusto. Houve melhorias nas condições de oferta e demanda, o desemprego continua baixo, a participação da força de trabalho aumentou e a inflação nominal desacelerou. No entanto, houve uma leve diminuição na demanda por trabalhadores.

O comunicado ressaltou a resiliência da economia americana e a importância de monitorar indicadores e riscos. O compromisso do Federal Reserve em maximizar o emprego e manter a estabilidade de preços foi reafirmado. Além disso, a observação atenta do aumento das taxas de juros de longo prazo, a queda no mercado de ações e a valorização do dólar foram mencionadas como fatores que podem influenciar as próximas decisões de política monetária. As autoridades mantêm a cautela, reconhecendo a dependência de dados econômicos para decisões futuras sobre as taxas de juros.

O Produto Interno Bruto (PIB) do terceiro trimestre registrou um crescimento robusto de 4,9% em termos anualizados, impulsionado principalmente pelo consumo, que cresceu 4,0%. Embora alguns fatores temporários tenham contribuído para esse desempenho, destaca-se que a força do mercado de trabalho, o emprego e a renda resistentes têm sido fundamentais para esse crescimento acima das expectativas. O consumo nos EUA, de forma
surpreendente, demonstrou força diante dos aumentos de juros pelo Fed, resultando em um PIB que superou as previsões no terceiro trimestre. Em relação a zona do euro, o mês de novembro foi marcado pela divulgação de indicadores econômicos significativos, que retratam uma situação desafiadora para a região. O Produto Interno Bruto (PIB) registrou um recuo de 0,1% no terceiro trimestre em comparação com o trimestre anterior, consolidando uma desaceleração que permeou o ano. Inicialmente estável, seguida por um crescimento modesto no segundo trimestre, a economia testemunhou uma contração entre julho e setembro, evidenciando um crescimento anual de apenas 0,1%, significativamente inferior ao período anterior.

Esses indicadores, aliados ao Índice de Preços ao Consumidor (IPC), que apontou um aumento de 2,9% em outubro em relação ao ano anterior, ainda que desacelerado em relação ao mês anterior, revelam um panorama desafiador. A desvalorização dos preços de energia após os picos de 2022, decorrentes da guerra na Ucrânia e da escassez de gás natural, assim como a desaceleração na inflação relacionada a alimentos, álcool e tabaco, são destaque nesse cenário.

A atividade econômica permanece fragilizada na zona do euro, sem perspectivas imediatas de recuperação. Durante a reunião de política monetária de outubro, o Banco Central Europeu (BCE) optou por manter a taxa de juros estável em 4,0%, indicando uma estabilidade nesse patamar para o futuro próximo.

E sobre a China: mês de novembro tivemos um panorama econômico com sinais de melhora, impulsionado por atividades superior ao esperado no curto prazo. Essa recuperação foi sustentada principalmente pelo desempenho positivo no consumo e no setor de manufatura. O crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) no terceiro trimestre superou as expectativas, registrando um aumento de 1,3% na variação trimestral, comparado a 0,5% no trimestre anterior. Esse avanço foi impulsionado especialmente pelo crescimento no consumo e na produção manufatureira. Embora a sondagem PMI do setor de manufatura tenha recuado para 49,5 em outubro (de 50,2), parte desse declínio foi atribuído a fatores sazonais. No entanto, esse índice ainda se mantém em um patamar superior ao registrado em 2022, com uma média de 49,1. Ainda, no final de outubro, o governo anunciou uma emissão adicional de 1 trilhão de yuans em títulos do governo central, equivalente a 0,8% do PIB, sinalizando um estímulo fiscal focado em infraestrutura. Essa injeção de recursos prevê sustentar a atividade econômica no início de 2024.

No decorrer do mês as discussões sobre a possibilidade de o Banco Central japonês elevar a taxa de juros ganharam força. Cabe explicar que é a última a economia que segue com a manutenção de juros negativos, entretanto a política monetária parece ter subestimado a pressão inflacionária. Posto isso, o Yen apresentou forte valorização frente as principais moedas no mundo, cabendo monitoramento do fluxo de capital para o Japão.

Brasil

Não tivemos alterações relevantes na economia local no mês de novembro. O terceiro trimestre registrou um crescimento de 0,1% no Produto Interno Bruto (PIB), marcando a terceira taxa positiva consecutiva. Esse desempenho estável superou as expectativas iniciais. Com esse resultado, a produção total de bens e serviços atingiu novamente o maior patamar da série histórica, operando 7,2% acima do nível pré-pandemia, registrado no quarto trimestre de 2019. Em comparação com o mesmo período do ano anterior, o crescimento foi de 2%. Do ponto de vista da demanda, o gasto das famílias aumentou 1,1%, enquanto o gasto do governo cresceu 0,5%. O crescimento no consumo das famílias é atribuído a diversos fatores, como programas governamentais de transferência de renda, melhoria contínua do mercado de trabalho, inflação mais baixa e aumento do crédito. No entanto, os juros altos e o endividamento das famílias ainda impactam, mesmo com a queda no consumo de bens duráveis. Os investimentos, medidos pela Formação Bruta de Capital Fixo, tiveram uma queda de 2,5% em relação ao segundo trimestre.

Sobre o desemprego, dados do IBGE informaram que o desemprego no Brasil atingiu 7,6% no trimestre encerrado em outubro, o menor desde fevereiro de 2015. Isso representa uma queda de 0,3 ponto percentual em relação ao
trimestre anterior e de 0,7 ponto percentual em comparação ao mesmo período do ano passado. Em números absolutos, há 8,3 milhões de desempregados, 3,1% a menos que no trimestre anterior e 8,5% a menos em relação ao ano passado. Os dados do Novo Caged mostram que em outubro foram gerados 190.366 empregos formais, somando 1.784.695 no acumulado do ano, apesar de chamar atenção a contratação de 685.000 funcionários alocados na administração pública. Os setores de serviços, com destaque para áreas como Informação e Comunicação, e o comércio foram os que mais contribuíram para esses números positivos. A indústria também teve um aumento no emprego, com ênfase na fabricação de açúcar e móveis. A Construção Civil teve um saldo positivo, enquanto a Agropecuária foi o único setor com saldo negativo devido à desmobilização em algumas áreas, apesar do aumento na Produção de Sementes.

1. Estratégia das Carteiras

No cenário interno prevaleceu o acompanhamento dos juros futuros em relação ao movimento global, devidamente sustentados pelos dados de inflação e atividade e pela diminuição dos ruídos na condução da nova política fiscal.
Diante do exposto, entendemos que o mercado tende a ser favorecido pelo cenário global, com a consolidação da perspectiva de estabilidade das taxas básicas de juros nos EUA e pelo cenário interno, com dados favoráveis de
inflação e atividade, o que permite uma maior exposição a renda variável.

2.1 Renda Fixa

A intensificação das posições em títulos pré-fixados a partir do mês de março, com baixíssimo risco de crédito e de curta duração, passaram a surtir efeito positivo, devido ao ciclo de queda da taxa Selic. A estratégia de alocação no
curto prazo segue a mesma, em razão do cenário ainda desafiador. Os impactos nas carteiras advindos da marcação à mercado, nos meses de setembro e outubro, foram atenuados no mês de novembro, em razão dos dados favoráveis.

2.2 Renda Variável

O mês de novembro foi marcado pela reentrada do capital estrangeiro na bolsa de valores, dando início ao “rally de final ano”. Após 5 meses consecutivos de acumulação e fortes descontos, reflexo da aversão ao risco, o Ibovespa atingiu os 127.331, registrando ganhos na ordem de 12,5%. Nesse contexto, a maior exposição em bolsa promovida na última semana de outubro, por meio da utilização do caixa de contingenciamento, gerou ganhos expressivos para as carteiras com ações.

Carteira internacional

Nesse mês, além da manutenção da estratégia de aquisição dos bonds de empresas norte-americanas com rating acima “BBB” e com duration até 6 anos, passamos a adquirir bonds de empresas brasileiras de baixo risco de crédito.
Com o cenário de juros mais favorável, buscamos títulos com retornos maiores, otimizando o resultado das carteiras.

Em razão das dúvidas relacionadas ao “teto dos gastos” norte-americano, a ser renegociado ao final de janeiro de 2024 no Senado, mantivemos aplicações relevantes nos títulos do tesouro de curto prazo de alta liquidez (Bil), como
recursos estratégicos para um eventual stress de mercado. As ações do S&P500 voltaram a reagir positivamente frente a perspectiva sobre os juros atual. Quanto a renda variável, seguimos investindo com critérios fundamentalistas privilegiando as empresas com forte estrutura de capital e geração de riqueza relevante (ROE e ROIC).

2. Conclusão

O cenário internacional ainda requer cautela. Agora são duas zonas de guerra de alto impacto, a China importa menos, a Alemanha registrou retração além do esperado e o Japão deve iniciar seu ciclo de alta de juros. No Brasil permanecem as discussões sobre a Reforma Tributária e a necessidade de aumentar a arrecadação. O déficit primário e o nominal continuam a deteriorar e a dívida ainda preocupa, tendo atingido 74,5% do PIB. Nesse sentido, a gestão segue priorizando a preservação de capital e o rigoroso controle de riscos. A disciplina na busca por ativos de qualidade com fundamentos fortes encontra-se preservada.

Renan S. Silva
Gestor, CGA

DISCLAIMER
O material apresentado é de caráter exclusivamente informativo. A Bluemetrix Asset não se responsabiliza por qualquer decisão tomada pelos investidores. O investidor deve analisar muitos outros fatores não presentes nessa
carta e que devem ser levados em conta para tomar suas decisões. O material não deve ser distribuído ou comercializado para terceiros sem o consentimento da Bluemetrix Asset. Esta carta não se caracteriza e não deve
ser entendida como consultoria jurídica, contábil, regulatória ou fiscal em relação aos assuntos aqui tratados. O
material não deve ser entendido como uma suposta solicitação de compra ou venda, oferta ou recomendação de
qualquer ativo. A Bluemetrix Asset não se responsabiliza por qualquer erro presente na carta.