Carta do Gestor Mai/24

Cenários e perspectivas

1. Cenário Econômico Internacional

Nos EUA, o relatório de emprego (Payroll) registrou a criação de 272 mil vagas ante a projeção de 182 mil vagas, frustrando a expectativa do mercado quanto ao início do ciclo de cortes de juros por parte do FED, principalmente, em razão da robustez da economia e possíveis pressões inflacionárias adicionais.

Em março, os agentes de mercado projetavam pelo menos três cortes de juros e, hoje (12/6), apenas um corte em 2024. Não obstante, o principal índice de inflação (CPI) anualizado ficou no campo da estabilidade, registrando 3,4% (maio/24) contra os 3,5% projetados. Conjuntamente, esses indicadores elevaram as apostas de manutenção da taxa de juros na próxima reunião do Fomc (12/6) ao patamar de 95% dos analistas, inibindo o fluxo de capital para os países emergentes e fortalecendo o Dólar.

Do lado China, o PIB cresceu 5,3% no 1º trimestre em relação ao mesmo período de 2023, atingido US$ 21,41 trilhões. A alta ficou acima da projeção do mercado de 4,6%. Com relação ao trimestre anterior, o PIB da China teve alta de 1,6% no período de janeiro a março de 2024. No 4º trimestre do ano passado, a economia chinesa teve crescimento 5,2%. Com relação as desconfianças quanto a sustentabilidade do modelo de crescimento chines, ainda pesam a Crise Imobiliária e a recente guerra tarifária, concomitantemente, com a redução dos investimentos diretos no país.

Cenário Econômico Doméstico

No Brasil, as estimativas para a Taxa Selic terminal atingiram o patamar de 10,25% a.a. (jun/24) contra os 8,5% a.a. (jan/24), registrando forte deterioração. No momento (12/6), o IPC-A registrou inflação de 0,46%, com a taxa anualizada atingindo 3,93%, acima do esperado. Do lado do câmbio, o mês foi marcado por forte desvalorização do Real frente ao Dólar, atingindo a relação R$ 5,40, pressionando os juros futuros. O contrato futuro de juros (DI1F25), com vencimento para janeiro de 2025 era negociado a 9,91% a.a. no mês de abril e, no momento, encontra-se em 10,68% a.a., indicando stress de mercado.

Nesse contexto, os economistas do mercado financeiro reforçam a tese de interrupção do ciclo de cortes de juros no Brasil, reforçando o aumento relevante do risco fiscal, marcado pela piora da dívida/PIB (76%), do resultado primário (-2,4% do PIB) e do resultado nominal (-9,41% do PIB).

É fato que as projeções para o crescimento do PIB em 2024 permanecem na casa dos 2,0%, entretanto, impulsionados pelos maiores gastos do Governo. O PIB avançou 2,5% em março de 2024, na comparação com o mesmo período anterior, puxado pelo setor agrícola em especial exportação, o qual apresentou crescimento de 6,41%, contra 1,9% e 2,3% advindos dos setores da indústria e de serviços respectivamente.

Quanto a bolsa de valores, o Ibovespa continua sofrendo com as taxas de juros altas no Brasil e nos EUA, tendo registrado variação negativa de -10,39% no ano de 2024 (base de 12/6). Adicionalmente, verificou-se maior aversão ao risco com relação aos países emergentes, como o caso do México, Índia, Rússia, China e Brasil, os quais sofreram forte desvalorização cambial nos meses de maio e junho (12/6).

2. Estratégia das Carteiras

2.1 Carteira de Renda Fixa

Intensificamos a estratégia de adquirir títulos pós-fixados de emissões privadas aproveitando maiores prêmios pelo risco, explicada pela compressão nas taxas pré-fixadas ao mesmo tempo em que o Copom/Bacen poderá interromper o ciclo de corte da taxa Selic em 10,25% a.a.

2.2 Carteira de Renda Variável

Em razão da “desancoragem das expectativas”, permanecemos privilegiando os setores essenciais (mineração, petróleo, energia elétrica, bancos, seguradoras, telecomunicações, alimentação, fármacos) selecionando empresas com forte estrutura de capital e upsides acima da taxa Selic.

Adicionalmente, efetivamos a venda de BOVA11 na ordem de 15% da carteira e mantivemos 10% em caixa, os quais, conjuntamente, representam uma proteção (hedge) de 25% do portfólio

2.3 Carteira internacional

Diferentemente do caso brasileiro, a economia robusta nos EUA continua propiciando maiores prêmios na Renda Variável. Nas carteiras internacionais prevalece a maior aderência ao S&P500 e investimentos em empresas com retornos sobre investimentos (ROIC) mais elevados entre outras métricas de segurança.

Continuamos com a postura de aproveitar o stress na curva de juros, relativo ao adiamento do corte de juros nos EUA, investindo em títulos com durations mais curtos, os quais têm apresentado ganhos históricos relevantes em dólar, mas mantendo o rigor na análise de crédito.

3. Conclusão

O cenário doméstico apresenta maior risco soberano, justificado alteração da meta fiscal e a deterioração da relação dívida/PIB. Ademais, a tragédia ambiental verificada no Estado do Rio Grande do Sul aumenta as incertezas quanto a inflação de alimentos (soja, arroz e proteínas) e aos gastos públicos não recorrentes.

Quanto ao cenário internacional, o foco segue nas decisões do FED sobre o início do ciclo de cortes juros, que poderá acontecer a partir de setembro de 2024, o que tende a motivar uma inversão do fluxo financeiro para bolsa brasileira, devido ao forte desconto em dólar observado.

A gestão segue priorizando a preservação de capital e o rigoroso controle de riscos. A disciplina na busca por ativos de qualidade com fundamentos fortes encontra-se preservada.

Renan S. Silva
Gestor, CGA

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