Carta do Gestor set/out – 2024
Cenários e perspectivas
Cenário Econômico Internacional
EUA
Depois de um longo período de política monetária restritiva, o FED iniciou o ciclo de corte dos juros nos EUA, promovendo a redução de 0,5% na taxa básica, que deverá oscilar entre 4,75% e 5,0% ao ano. A principal motivação foi a desaceleração do núcleo da inflação e o arrefecimento da oferta de mão-de-obra. Já dentro do mês corrente, a oferta de emprego voltou a acelerar com o payroll registrando a criação de 254 mil vagas (setembro), muito acima do esperado pelos agentes de mercado. Ademais o IPC verificado foi de 2,4 ao ano, demonstrando maior pressão inflacionária. Desta forma, surgiram dúvidas quanto a continuidade do ciclo de corte de juros, o que elevou as taxas dos títulos e fortaleceu a moeda (USD).
Complementarmente, a escala da guerra no Oriente Médio poderá culminar em maior pressão nos preços das commodities e, consequentemente, interrupção do corte juros. Outra preocupação refere-se à elevação dos gastos públicos nos EUA, devido às despesas com manobras militares e possível envolvimento direto no conflito. Cabe esclarecer que os gastos estão acima do teto há 2 anos deteriorando o risco soberano, o que poderá contribuir para a estagnação dos juros no patamar atual.
Zona do Euro
A economia da Alemanha deve sofrer uma contração de 0,2% em 2024, sendo que o governo está reduzindo sua previsão para a taxa ajustada pela inflação ante estimativa anterior de crescimento de 0,3% este ano. Esse será o segundo ano consecutivo de contração para a maior economia da Europa, que foi a mais fraca entre seus pares da zona do euro no ano passado, com um declínio de 0,3% no Produto Interno Bruto. Com essa expectativa, o consenso de mercado segue indicando a continuidade do ciclo de corte de juros na Zona do Euro.
China
A 2ª economia do mundo tem sofrido com a desaceleração desde o 2T24, pesando sobre os gastos das famílias e a confiança empresarial em meio a queda no setor imobiliário, denotando descumprimento da meta de crescimento de 5% em 2024. Para combater a deflação e impulsionar a atividade econômica, o Governo planeja emitir títulos especiais no valor de cerca de US$ 283,4 bilhões para apoiar o consumo das famílias e ajudar os governos locais a resolverem seus problemas de endividamento. No cômputo fica claro a fragilidade da economia, sendo que no curto prazo poderemos observar um crescimento lento e gradual.
Cenário Econômico Doméstico
O destaque ficou para melhora da nota de classificação do risco soberano brasileiro emitido pela agência Moody’s, que considerou as promessas do Governo em conter seu ímpeto de gastar e pela maior arrecadação de impostos. Em razão, justamente, das dúvidas quanto a condução da política fiscal, que o Bacen resolveu elevar a taxa Selic para 10,75% a.a. com as projeções para o final do ano atingindo o patamar de 11,75% a.a.. Contribuíram para a decisão do Copom a maior pressão inflacionária advinda da severa seca e as grandes queimadas no Brasil, entretanto, as projeções para o PIB chegam a 3%, impulsionados pela melhora no emprego e na renda. Ainda, a concessão de crédito para PF e PJ cresceram substancialmente e fomentam a melhora das vendas no varejo no curto prazo.
Estratégia das Carteiras
Carteira de Renda Fixa
Mantivemos a política de aquisições de títulos de crédito privado isentos de impostos e indexados ao IPC-A, devido às pressões inflacionárias. As alocações maciças em títulos pós fixados desde maio/24 começam a surtir efeito, devido a elevação da Selic.
Carteira de Renda Variável
O Ibovespa segue em tendência de alta, mas com sinais de enfraquecimento justificado pela elevação da taxa de juros. Seguimos com a estratégia de maior aderência ao Ibovespa, considerando as projeções do PIB no curto prazo.
Carteira internacional
O S&P500 reverteu o período de realização de lucros (ajuste técnico) e segue em tendencia de alta, devido ao crescimento econômico robusto. Mantivemos as ações de empresas resilientes em uma economia desenvolvida, frente ao início do ciclo de queda da taxa de juros nos EUA. Na renda fixa, alongamos os vencimentos dos títulos de forma comedida, em razão do possível corte de juros ao longo do semestre.
Conclusão
No momento, o otimismo é comedido quanto ao corte de juro nos EUA, induzindo a estratégias mais defensivas, o que diminui o ímpeto do investidor no mercado acionário. Cabe pontuar que os riscos geopolíticos estão aumentados e, para tanto, seguimos monitorando possíveis alterações de volatilidade. A gestão segue priorizando a preservação de capital e o rigoroso controle de riscos. A disciplina na busca por ativos de qualidade com fundamentos fortes encontra-se preservada.
Renan Silva
Gestor, CGA