Carta do Gestor Ago/23
Cenários e perspectivas
1. Cenário Econômico
No cenário internacional a queda da atividade econômica em meio a aceleração dos preços das commodities trazem à tona o receio da estagflação. A exceção dos EUA e do Brasil, os países europeus passam por dificuldades em controlar a inflação, indicando para um longo período de juros elevados e baixo crescimento.
Cabe esclarecer que a pressão sobre o preço do petróleo advém da menor oferta, sendo que a Rússia e Arábia Saudita, anunciaram (5/9) a manutenção dos cortes de produção de petróleo. Os árabes estenderam por mais 3 meses a redução diária de oferta de 1 milhão de barris e os russos cortaram as exportações em 300 mil barris por dia.
Quanto a economia norte americana, as análises dos indicadores apontam para o controle inflacionário sem recessão. Segundo o pronunciamento (10/9) da secretária do tesouro, Sra. Janet Yellen, os dados conjunturais estão a contento, sinalizando para o “soft landing”. Na contrabalança, foram 216 mil os pedidos por seguro-desemprego quando eram esperados 234 mil, o que mantém a autoridade monetária em alerta. Para a próxima reunião do Fomc, dia 20 de setembro de 2023, o consenso de mercado é pela manutenção da taxa de juros no patamar de 5,5% a.a.
Na Zona do Euro o Purchasing Managers’ Index – PMI veio aquém das expectativas, começando pelo mau desempenho da Alemanha, com redução das encomendas ao setor manufatureiro na ordem de 2%, pior desempenho desde março de 2020. Ainda na Alemanha, a produção industrial recuou pelo terceiro mês consecutivo, reflexo dos juros mais altos na região, ao mesmo tempo em que a inflação se encontra em 6,0% a.a. contra a meta de apenas 2,0% a.a.
Com relação a China, o governo permanece empenhado em efetivar estímulos a economia, corte de juros, menores impostos e, em ago/23, aumento da concessão de crédito. No curto prazo temos uma melhora marginal da confiança, que ainda inspira cuidados. O fato é que o temor da perda do emprego, por parte dos mais jovens, persiste, o que reflete diretamente nos resultados ruins apresentados pelo setor imobiliário. Outros dois indicadores que decepcionaram foram o PMI de Serviços, com pior desempenho no ano, e as exportações com queda de 10%, sendo o quinto mês seguido de retração. Importante relatar que China vem sofrendo com algumas questões estruturais. Na última década o país vem perdendo a atratividade para as empresas multinacionais, diferente do período de abertura da economia conduzido pelo presidente Deng Xiaoping. Recentemente, na era Xi Jinping, os custos de produção cresceram sensivelmente, puxados pelo aumento dos salários e de impostos. No momento, empresas multinacionais procuram reduzir sua exposição a China, transferindo fabricas para a Índia, Vietnã, Malásia e México.
Adicionalmente, a proibição da utilização de Iphones de fabricação da (Apple) em empresas do Governo acirrou os ânimos na Guerra Comercial com os EUA. A Apple perdeu R$ 1,0 trilhão em valor de mercado (7/9), contaminando o setor de tecnologia nos EUA. Sem dúvidas as multinacionais estão colocando na conta as mudanças regulatórias restritivas unilaterais impostas pelo Governo chines, reduzindo as operações no país.
No Brasil, o destaque ficou para fuga do capital estrangeiro da Bolsa de Valores, cuja participação no volume de negociação chega a 55%. Os estrangeiros retiraram R$ 13,0 bilhões no decorrer do mês, sendo a maior retirada desde março de 2020. As justificativas são a maior aversão ao risco, frente ao cenário global desafiador, o menor crescimento chines e as dificuldades do Governo brasileiro em cumprir a meta fiscal, levando o Ibovespa a uma queda de 5% no mês.
No momento, o crescimento do PIB de 3,2%, acumulado em 12 meses, foi impulsionado pelos gastos do Governo, assim como pelo setor agrícola, gerando dúvidas sobre a sua sustentabilidade. Não obstante, as projeções para o crescimento sofrem revisões para cima. De acordo com a mediana das projeções o PIB deverá crescer 2,65% em 2023, entretanto parte dos economistas apostam em uma elevação de 3,2% a 3,5% para o mesmo período. Segundo o consenso, a inflação deverá atingir 4,93% e a taxa Selic 11,75% a.a.
Cabe frisar que o ambiente econômico ainda demanda atenção, em razão da forte redução da concessão de crédito, registrada nos últimos 12 meses e do elevado custo do capital na faixa de 22,5% a.a., mesmo patamar de 2015. Complementarmente, o grau de alavancagem das famílias gera dúvidas quanto aos investimentos de longo prazo por parte das empresas.
Adicionalmente, os agentes de mercado levantam dúvidas sobre a condução da Política Fiscal, considerando que a arrecadação de impostos retraiu 14% e as despesas do Governo aumentaram em 36% no acumulado de janeiro a julho de 2023, contribuindo para um déficit de R$ 155,0 bilhões, segundo o relatório do Tesouro Nacional.
Nas contas nacionais, o resultado primário atingiu -0,78% do PIB (jul/23) ante -0,24% (jun/23) e o resultado nominal, que incluem as despesas com juros, chegou a -6,92% do PIB (jul/23) ante -6,42% do PIB (jun/23). Quanto a dívida buta e a dívida líquida, há uma crescente deterioração, tendo atingido os 74,6% do PIB e os 59,6% do PIB
respectivamente.
Essa tendencia pode ser desconstruída a partir dos efeitos esperados com a aplicação do novo Arcabouço Fiscal, tramitando no Congresso Nacional, e da Reforma Tributária, tramitando no Senado Federal. No decorrer do mês de agosto o Governo sinalizou para a intenção embrionária de apresentar uma Reforma Administrativa.
2. Estratégia das Carteiras
Com vistas no curto prazo, seguimos com maior exposição aos títulos pré-fixados, favorecidos pelo início do ciclo de queda da taxa de juros. Aumentamos marginalmente as posições em ações de empresas listadas em bolsa de valores com atuação no mercado doméstico, considerando o menor crescimento global, contudo não foram descartados os pontos de atenção quanto ao risco fiscal.
2.1 Renda Fixa
A intensificação das posições em títulos pré-fixados a partir do mês de março, com baixíssimo risco de crédito e de curta duração, começaram a surtir efeito significativo, devido ao arrefecimento da curva de juros futura, afetada positivamente pelo novo ciclo de queda da taxa Selic.
2.2 Renda Variável
Ao final do mês de agosto, aumentamos a exposição em bolsa de valores. As novas alocações privilegiam os setores da economia doméstica mais sensíveis a queda da Taxa Selic, entretanto sem abandonar o setor de exportação, justificada pela pressão nos preços das commodities, em especial petróleo e minério de ferro.
a. Carteira internacional
Manutenção da estratégia de aquisição dos bonds de empresas norte-americanas com rating acima “BBB” e com duration abaixo de 5 anos, devido ao cenário adverso. Com relação aos novos aportes, enfatizamos as compras de bonds de empresas brasileiras com risco de crédito baixo, com vistas a otimizar os resultados de renda fixa. Em face do risco associado a elevação da taxa de juros nos EUA, mantivemos aplicações relevantes nos títulos do tesouro de curto prazo de alta liquidez (Bil), configurando como recursos estratégicos para um eventual stress de mercado. A respeito da renda variável, o segmento está alicerçado no pleno emprego e na baixa alavancagem das famílias estadunidenses. Seguimos investindo com critérios fundamentalistas privilegiando as empresas com forte estrutura de capital.
3. Conclusão
O cenário internacional aponta para a estagflação, com os países europeus intensificando o combate à inflação em meio ao menor crescimento. Nesse contexto, continuamos com o ímpeto de capturar os benefícios oriundos da queda de juros no Brasil, aproveitando ao máximo os juros reais elevados de curto prazo. Da mesma forma, aumentamos a exposição a bolsa de valores marginalmente, valendo-se da remodelagem dos Valuation das empresas listadas frente a queda dos juros. A gestão segue priorizando a preservação de capital e o rigoroso controle de riscos. A disciplina na busca por ativos de qualidade com fundamentos fortes encontra-se preservada.
Renan S. Silva
Gestor, CGA
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