Carta do Gestor ago/set – 2024
Cenários e perspectivas
EUA
No mês de agosto os dados relacionados ao emprego registraram desaceleração, assim como os pedidos iniciais para obtenção do seguro-desemprego. Desta forma, aumenta a probabilidade de o FOMC iniciar o ciclo de corte de juros nos EUA, atualmente entre 5,25% a.a. e 5,5% a.a.. Segundo declarações do Sr. Jerome Powell a expectativa é de um primeiro corte de 0,25%, o que frustrou parcialmente os agentes do mercado financeiro, os quais demonstram preocupações sobre uma possível recessão. Recentemente 45% dos analistas de mercado apontavam para um corte mais agressivo, entretanto ficou claro a intenção do Fomc de perseguir a meta inflacionária de 2,0%.
Ademais, o núcleo do IPC (11/9) auferiu alta de 3,2% em 12 meses e o IPC anualizado 2,5%, ambos em linha com as projeções, reforçando a tese de um corte comedido de 0,25% na próxima reunião do Fomc (18/9).
Zona do Euro
Quanto a atividade econômica na Zona do Euro, a produção industrial alemã registrou forte retração. Vale esclarecer que as empresas alemãs sofrem com a perda de competitividade, justificada pela ruptura do modelo de negócios baseado em energia de baixo custo advinda da Rússia. A Alemanha implementou a estratégia de estabelecer parcerias com novos fornecedores, em especial, oriundos da África para reduzir a dependência do petróleo e do gás russo, o que repercutiu em aumento dos custos de produção. Outrossim, observou-se a redução do comércio com a China, principalmente, no setor automobilístico. Nesse contexto, o BCE deverá manter o ímpeto de cortar a taxa de juros na região, hoje no patamar de 3,75% a.a. com manutenção da tendência de baixa.
China
A economia chinesa permanece indicando fragilidade, devido ao fraco consumo doméstico. As exportações surpreenderam positivamente, justificadas pela melhora na atividade global, puxada pelo EUA. O Produto Interno Bruto (PIB) da China no 2T24 ficou aquém das expectativas, crescendo 4,7% ante 5,1% previsto pelos economistas. Como correção de rota o Governo reduziu a taxa de juros (LPR) de 3,45% a.a. para 3,35% a.a. e anunciou um pacote de medidas para impulsionar o consumo. O cerne do baixo crescimento ainda está relacionado a crise no setor imobiliário, principal ativo na composição da poupança dos cidadãos chineses.
Japão
O Banco Central japonês elevou em julho de forma inesperada a taxa de juros de curto prazo para 0,25%, elevando as preocupações quanto ao grau de endividamento do Governo. A dívida bruta do país encontra-se em 252% do PIB e a dívida líquida representa 158% do PIB, sendo que, por menor que seja a elevação dos juros, a relação dívida/PIB deverá deteriorar rapidamente. No mês de agosto os dados de inflação reforçaram o receio por novas altas na taxa de juros, denotando maior pessimismo sobre a 4ª maior economia do mundo, denotando ponto de atenção.
Cenário Econômico Doméstico
A condução da Política Fiscal continua decepcionando, com o déficit primário representando -2,3% do PIB e o déficit nominal -10,0% do PIB, deteriorando as expectativas de manutenção da Taxa Selic na próxima reunião do Copom em 18/9. Adicionalmente, o PIB registrou crescimento acima do esperado na ordem de 3% anualizado, indicando para pressões inflacionárias além da expectativa. Na contramão o IPC-A apresentou deflação de -0,02% em agosto e desaceleração no índice anualizado de 4,5% para 4,24%, aumentando as apostas de elevação de 0,25% ou manutenção da Selic.
Geopolítica
À medida que a guerra em Gaza continua, os receios são crescentes quanto à possibilidade do alastramento do conflito no Oriente Médio. Israel e o Hezbollah têm trocado tiros através da sua fronteira durante os últimos nove meses. Segundo analistas políticos, caso o conflito evoluir para uma guerra de fato, poderá atrair milícias apoiadas pelo Irã no Iraque, na Síria e no Iêmen e espalhar terror por todo o Oriente Médio e, inevitavelmente, envolver os EUA. O maior temor é o envolvimento direto do Irã, o que elevaria drasticamente as tensões na região.
Estratégia das Carteiras
Carteira de Renda Fixa
No momento a ênfase são aquisições de títulos de crédito privado isentos de impostos e indexados ao IPC-A, devido às pressões inflacionárias advindas do crescimento robusto do PIB em 2024. Manteremos a estratégia de realocar na ordem de no máximo 10% dos recursos em títulos de crédito privado, aproveitando o “fechamento” da curva de juros futura influenciada pela perspectiva de corte de juros nos EUA. Cabe reforçar que a duration dos novos títulos não deverá ultrapassar 4 anos e será mantido o rigor na análise de crédito.
Carteira de Renda Variável
O Beta (b) da carteira foi elevado cumprindo a estratégia de maior aderência ao Ibovespa que segue em tendência de alta, influenciada pelo provável corte de juros nos EUA (18/9). São ações da BB Seguridade, da Vivo, do Bradesco e da Ambev, ressaltando a forte estrutura de capital dessas empresas e elevada liquidez em bolsa.
Carteira internacional
Nos EUA o S&P500 registrou os primeiros sinais de exaustão com registro de realização de lucros (vendas de ações). Entendemos como natural o processo de ajuste dada as altas expressivas do índice nos últimos 12 meses. Aproveitamos o movimento para a realização alocações táticas, otimizando o resultado em ações, mas mantendo posições relevantes com ótica de longo prazo, buscando ações de empresas resilientes em uma economia desenvolvida, frente ao início do ciclo de queda da taxa de juros nos EUA. Na renda fixa, mantivemos a postura de alongar os vencimentos dos títulos, em razão do fechamento da curva de juros, em decorrência do possível corte de juros ao longo do semestre.
Conclusão
As perspectivas de cortes juros nos EUA poderão ocorrer a partir de setembro de 2024, o que deve motivar a inversão do fluxo financeiro para bolsa brasileira e para os Emergentes em geral. Cabe pontuar que os riscos associados aos eventos geopolíticos estão aumentados e, para tanto, seguimos monitorando possíveis alterações atípicas das variáveis macroeconômica.
A gestão segue priorizando a preservação de capital e o rigoroso controle de riscos. A disciplina na busca por ativos de qualidade com fundamentos fortes encontra-se preservada.
Renan S. Silva
Gestor, CGA