Carta do Gestor Mai/23
Cenários e perspectivas
1. Cenário Econômico
No mês de maio os holofotes se voltaram para o impasse do teto da dívida nos EUA e para o risco de um eventual shutdown por parte do Tesouro norte-americano, o que deixou os mercados em compasso de espera. Em linha com as expectativas, o Senado aprovou a suspensão do teto de gastos de US$ 31,4 trilhões até 1° de janeiro de 2025, com algumas ressalvas quanto a expansão da dívida, devolvendo a confiança dos investidores. Por exemplo, o S&P500 no último mês (base 9/6) registrou valorização de 3,79%, sendo que nos últimos 5 dias úteis subiu 1,25%.
Não obstante, o crescimento do consumo das famílias e o mercado de trabalho aquecido acabaram contribuindo para uma abertura da curva de juros nos EUA, reflexo da revisão quanto a probabilidade de alta adicional de juros nos próximos meses. Mesmo os membros do FOMC estão divididos quanto aos próximos passos: subir os juros em junho ou pausar e retomar as altas mais à frente. A segunda opção encontra apoio da maioria dos membros, inclusive a do Jerome Powell (Presidente do FED). É certo que há dúvida quanto a dinâmica inflacionária e dos efeitos cumulativos do aperto monetário executado até o momento.
Na Zona do Euro a atividade econômica perdeu força com a indústria estagnada e a queda nas vendas no varejo. Não obstante, o Setor de Serviços registrou forte recuperação, puxada pelo segmento de Turismo. Nesse contexto, a taxa de desemprego permanece nas mínimas, inclusive pressionando a inflação dos salários, o que corrobora com a continuidade do aperto monetário por parte do BCE, sendo que os agentes de mercado esperam pelo menos mais duas altas de 25 pontos base.
Na esfera da geopolítica, a destruição da represa de Kakhoka, na Ucrânia, aumentou as tensões. Considerado uma catástrofe ambiental sem precedentes, o incidente resultou em inundações em vários territórios ucranianos controlados pela Ucrânia e pela Rússia. Nesse sentido, manteremos o alerta quanto aos impactos sobre os preços das
commodities e choques de custos adicionais na cadeia global. Com relação a economia chinesa, a recuperação pós reabertura frustrou as expectativas, tendo registrado taxas marginais de crescimento menores do que as projetadas. Os indicadores oriundos da produção industrial apresentaram queda no último mês e o volume das vendas de novos imóveis encontram-se abaixo do registrado em 2019 (prépandemia). Desta forma, são esperadas medidas de estímulos monetário e fiscal por parte do Governo.
No Brasil, o Arcabouço Fiscal foi aprovado no Congresso Nacional com ampla maioria e segue para o Senado. Apesar da complexidade da aplicação da regra, somada a necessidade de aumentar a arrecadação, foram imputadas regras de aprimoramento as quais refletiram em aumento parcial da confiança do investidor.
Do lado da inflação doméstica, o destaque ficou para o IGP-M com variação de -1,84%, acumulando uma deflação em 12 meses de -4,47%, influenciado pela redução dos preços do minério de ferro (de -4,41% para -13,26%) e da soja (de -9,34% para -9,40%). O IPC-A registrou variação de 0,23% e atingindo 3,94% em 12 meses, abaixo das expectativas.
O PIB brasileiro surpreendeu positivamente no 1° trimestre com uma alta de 1,9% (12 meses) quando as expectativas giravam em torno 1,2%. O crescimento foi justificado pelo excepcional desempenho do setor agropecuário que cresceu 21,6%. Cabe alertar que apesar do setor agrícola (7% do PIB) ter apresentado uma produção recorde, o
cenário para os preços das commodities no mercado internacional não é propício, devido as sinalizações de desaquecimento da atividade economia. O PIB da indústria (33% do PIB) sofreu retração de 0,1% e o de Serviços (60% do PIB) 0,6%, dados aquém do esperado. Outra preocupação foram os investimentos (FBCF) que registraram queda de -3,4%. O consumo das famílias cresceu apenas 0,2%, explicados pelo elevado endividamento a taxa de juros proibitivas.
Nesse contexto, a aprovação do Arcabouço Fiscal e a desaceleração da inflação, indicam cortes de juros por parte do Bacen já a partir do 2° semestre. As projeções foram revisadas e indicam que o IPC-A anual deverá atingir os 5,6%, o PIB poderá chegar 2,1% e a taxa Selic 12,25% a.a.. Como ponto de atenção, o déficit primário deverá ficar em – 1,10% do PIB e o resultado nominal (com juros), -7,8% do PIB, cabendo monitoramento de perto como fator de risco.
No campo político, a hipótese de o CMN elevar a meta para inflação de 3,25% para 4,5%, incomoda, mas, no momento, os agentes de mercado entendem que esse movimento é pouco provável, em razão da melhora dos indicadores econômicos.
2. Estratégia das Carteiras
No cenário doméstitico, o grau de incerteza reduziu no curto prazo. Com alguma disciplina fiscal e perspectiva real de queda de juros, prevalece a tese de maior exposição na renda variável. Mantivemos o ímpeto em usufruir os ganhos expressivos nos juros da Renda Fixa e, simultaneamente, continuamos o movimento de aumentar a exposição gradual na bolsa de valores, cujos os “valuations” estão bem atrativos.
2.1 Renda Fixa
Seguimos com a tese de investir em títulos com baixíssimo risco de crédito. Com a perspectiva de queda de juros, aceleramos as aquisições de emissões privadas préfixadas de curto e médios prazos do segmento bancário (FGC).
2.2 Renda Variável
Mantivemos a estratégia de redução da proteção (hedge) até o patamar de 10% da carteira. Os recursos foram direcionados para empresas que atuam na economia doméstica. No momento, estamos privilegiando os setores mais sensíveis a queda de juros. O processo de diversificação do risco sistêmico está mantido, com investimento no S&P500 (bolsa norte-americana), em razão da perspectiva de fim do ciclo de alta de juros e da resiliência da economia dos EUA.
3. Conclusão
Assim como no mês anterior, a conjuntura de curto prazo pressupõe maior exposição em renda variável. Em face das incertezasrelacionadas ao longo prazo (ausência de curva longa), a gestão segue priorizando o rigoroso controle de riscos. A disciplina na busca por ativos de qualidade, com elevada liquidez e bons fundamentos encontra-se preservada.
Renan S. Silva Jr
Gestor, CGA