Carta do Gestor Out/23
Cenários e perspectivas
1. Cenário Econômico Internacional
Em outubro as autoridades monetárias dos Estados Unidos reiteraram seu compromisso de trazer a inflação para 2%, mantendo uma política monetária restritiva. Durante a reunião, o Federal Reserve destacou que os efeitos do aperto monetário implementado anteriormente ainda serão sentidos e que estão acompanhando com cautela a situação econômica do país.
O comunicado abordou vários aspectos da economia, observando que a atividade no setor imobiliário está diminuindo, enquanto o mercado de trabalho continua apertado. No entanto, as condições de oferta e demanda estão melhorando, o desemprego permanece baixo, a taxa de participação da força de trabalho aumentou, e a inflação nominal desacelerou. A demanda por trabalhadores diminuiu um pouco.
A nota também destacou a resiliência econômica nos Estados Unidos e a importância de monitorar vários indicadores e balanços de risco. As autoridades afirmaram que suas ações afetam a todos e que estão empenhadas em maximizar o emprego e manter a estabilidade de preços. Ressaltou também que o Federal Reserve está observando o aumento das taxas de juros de longo prazo, a queda da bolsa e a valorização do dólar, fatores que podem influenciar as próximas decisões de política monetária. Eles não estão confiantes de que atingiram um patamar contracionista suficiente e reiteraram que suas decisões futuras de taxa de juros continuam dependentes dos dados econômicos.
Enquanto isso, na Zona do Euro, o Produto Interno Bruto (PIB) da região apresentou um recuo de 0,1% no terceiro trimestre em comparação com o trimestre anterior, de acordo com dados preliminares ajustados divulgados pelo Eurostat, o escritório de estatísticas da União Europeia. Em relação ao mesmo trimestre do ano anterior, houve um modesto incremento de 0,1% na economia da área da moeda comum. Esses números confirmam a desaceleração da economia europeia, que começou o ano com estabilidade (0,0%) nos primeiros três meses, passou para um crescimento de 0,2% no segundo trimestre e experimentou uma retração entre julho e setembro. Na comparação anual, o crescimento no terceiro trimestre deste ano foi de apenas 0,1%, uma queda significativa em relação ao crescimento de 1,8% no quarto trimestre do ano passado.
Além disso, o índice de preços ao consumidor (CPI) da zona do euro apontou um aumento de 2,9% em outubro em relação ao ano anterior. Embora tenha havido uma desaceleração em relação aos 4,3% do mês anterior, esse aumento nos preços ainda é significativo. Notavelmente, os preços de energia caíram cerca de 11% após os picos de 2022, quando a guerra na Ucrânia e a escassez de gás natural afetaram o fornecimento. Em setembro, os preços de energia já haviam sido 4,6% mais baixos em comparação com o ano anterior. A inflação relacionada a alimentos, álcool e tabaco também mostrou uma tendência de desaceleração, ficando em 7,5% de alta em outubro, ante um aumento de 8,8% em setembro na mesma base de comparação.
Em relação a China, o país enfrentou um cenário macroeconômico complexo e desafiador, com uma série de medidas e desenvolvimentos significativos em resposta à fragilidade da atividade econômica. Em agosto, surgiram indícios iniciais de uma possível recuperação na indústria de transformação, com o PMI da indústria mostrando sinais positivos, indicando uma possível superação do período mais desafiador. No entanto, o setor de serviços e a construção civil continuaram a enfraquecer.
Em setembro, o cenário econômico continuou a desafiar as autoridades chinesas. No setor imobiliário, medidas nacionais de flexibilização foram anunciadas, marcando uma mudança importante na política, com o objetivo de impulsionar o mercado imobiliário e estimular o consumo. Isso incluiu reduções nas parcelas de entrada na compra de imóveis e reduções nas taxas de juros para financiamento imobiliário. No âmbito monetário, o banco central também adotou medidas de estímulo, cortando taxas de empréstimos de médio prazo e de recompra de curto prazo, buscando reduzir o custo do crédito e incentivar o investimento. No lado fiscal, os governos locais receberam diretrizes para acelerar a emissão de títulos especiais, a fim de sustentar os investimentos em infraestrutura.
O destaque do cenário de outubro seria ainda a incerteza do mundo em relação a guerra entre Hamas e Israel. Embora o conflito ainda não impacte negativamente os mercados, a entrada de outros países pode alavancar de imediato os indicadores, como por exemplo, o preço do petróleo.
Brasil
Trabalhamos com a expectativa de redução do Copom para novembro, já sensibilizada na curva futura de curto prazo. Essa decisão foi tomada após uma análise abrangente do cenário econômico, levando em consideração tanto fatores internos quanto externos que impactam a economia brasileira. De acordo com os dados recentes, observamos que a economia vem perdendo força, por conta principalmente dos juros altos, que encarecem o crédito e desestimulam o consumo e o investimento produtivo. Mesmo o Banco Central trabalhando a redução da Selic, está sendo reforçada a necessidade de perseverar uma política monetária contracionista até que se consolide não apenas o processo de desinflação, mas também a ancoragem das expectativas em torno das metas de inflação. Além do descrito acima, temos ainda incertezas sobre o cenário da economia global, o que impacta de alguma forma sobre uma visão mais positiva da economia nos próximos anos.
Em relação à política fiscal, os ruídos se intensificaram, tendo em vista o posicionamento contrário do presidente Lula sobre o contingenciamento de gastos, o que deixa dúvidas se a nova regra fiscal tem capacidade de uma consolidação fiscal. Diante deste cenário, fica claro que se devem buscar alternativas de aumento de receitas nos próximos anos.
2. Estratégia das Carteiras
Tendo em vista a manutenção do cenário desafiador, demos continuidade de maior exposição na renda fixa por meio dos títulos pré-fixados de curto prazo, favorecidos pelo ciclo de queda da taxa de juros. O processo de aumento marginal das posições em ações foi interrompido, considerando as circunstâncias exógenas.
2.1 Renda Fixa
A intensificação das posições em títulos pré-fixados a partir do mês de março, com baixíssimo risco de crédito e de curta duração, tendem a surtir efeito significativo, devido ao ciclo de queda da taxa Selic. A estratégia de alocação no curto prazo segue a mesma, em razão do cenário adverso. Ressaltamos que a partir da 2ª quinzena de setembro, a curva futura de juros abriu, com impacto nas carteiras e na marcação à mercado.
2.2 Renda Variável
Saida da proteção BTC BOVA11, feita em setembro/23, devido ao não rompimento do suporte (perto de 112 mil pontos). Nossas alocações permanecem privilegiando os setores mais resilientes, justificada pela pressão nos preços das commodities, em especial agrícolas, energia elétrica, petróleo e minério de ferro.
2.3 Carteira internacional
Manutenção da estratégia de aquisição dos bonds de empresas norte-americanas com rating acima “BBB” e com duration até 6 anos, devido ao cenário adverso. Em face do risco associado a elevação da taxa de juros nos EUA, mantivemos aplicações nos títulos do tesouro de curto prazo de alta liquidez (Bil), configurando como recursos estratégicos para um eventual stress de mercado. Quanto a renda variável, seguimos investindo com critérios fundamentalistas privilegiando as empresas com forte estrutura de capital e geração de riqueza relevante (ROE e ROIC).
3. Conclusão
O cenário internacional ainda requer cautela, por conta da guerra entre Palestina e Israel, inflação global bem acima da média histórica e, ainda, a manutenção dos juros americanos por longo período. Em relação ao mercado doméstico, atenção está voltada para a reforça tributária, que deve ser apresentada pela CCJ ainda no mês de novembro e a evolução do déficit primário, considerando que o governo está resistente ao contingenciamento dos gastos. A gestão segue priorizando a preservação de capital e o rigoroso controle de riscos. A disciplina na busca
por ativos de qualidade com fundamentos fortes encontra-se preservada.
Renan S. Silva
Gestor, CGA
Guilherme Satyro
Gestor, CGA
Andrea Lopes
Head Estruturados, CGA
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