Carta do Gestor Jan/24

Cenários e perspectivas

Cenário Econômico Internacional

Nos Estados Unidos, observou-se uma tendência de redução no consumo das famílias devido aos elevados gastos com juros, apesar de a renda disponível continuar a subir e do excesso de poupança. Por outro lado, as empresas
planejam cortar investimentos devido ao aumento nos pagamentos de juros, mesmo tendo estendido dívidas a juros baixos e mantendo um excesso de caixa. Embora tenha ocorrido uma leve elevação no desemprego, este foi o
resultado de uma maior entrada de pessoas na força de trabalho do que da destruição de empregos, mantendo a renda real em crescimento sustentável.

Nos indicadores de inflação nos Estados Unidos, o Índice de Preços ao Consumidor (CPI) apresentou aumento em dezembro, superando as expectativas, indicando que ainda há um caminho a ser percorrido para a inflação convergir para a meta de longo prazo de 2,0%. Contrapondo isso, o Índice de Preços ao Produtor (PPI) registrou queda em dezembro, apontando uma desaceleração significativa em relação à inflação ao produtor de 6,4% em 2022.

Na Europa, a zona do euro evitou por pouco uma recessão técnica no último trimestre de 2023. O Produto Interno Bruto (PIB), que monitora a atividade econômica no bloco, permaneceu estável entre outubro e dezembro em
comparação com o trimestre anterior. Essa estabilidade foi alcançada em grande parte devido ao notável crescimento na Espanha e em Portugal, bem como a um modesto aumento na Itália. Estes países conseguiram compensar o impacto negativo causado pela maior economia da Europa, a Alemanha, que registrou uma contração de 0,3%, a maior entre as economias da zona do euro, exceto a Irlanda, que teve uma queda de 0,7%. A Alemanha, historicamente um motor econômico na região, influenciou negativamente a taxa global, destacando a importância de sua performance para o bloco como um todo.

E na China, o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) no último trimestre de 2023 ficou abaixo das projeções do mercado. Os dados divulgados pelo Escritório Nacional de Estatísticas mostram que o PIB teve um aumento anual
de 5,2% durante o ano, atingindo 126,06 trilhões de yuans (cerca de US$ 17,71 trilhões). Ao longo de 2023, o PIB chinês apresentou a seguinte trajetória em termos anuais: 4,5% no primeiro trimestre, 6,3% no segundo, 4,9% no terceiro e 5,2% no último trimestre pois, mesmo apresentando números favoráveis, o crescimento no último trimestre não atendeu às expectativas. O resultado anual, embora tenha superado a meta de crescimento estabelecido pela China, que era de 5%, e ultrapassado os 3% registrados em 2022, não correspondeu
às projeções. Em novembro, o Fundo Monetário Internacional (FMI) projetou um crescimento de 5,4% para 2023, indicando uma performance abaixo do estimado.

Em relação ao resto do mundo (cenário geral), houve um aumento significativo nos riscos geopolíticos. Além do conflito Rússia versus Ucrânia, a guerra no Oriente Médio pode apresentar impactos relevantes para a economia
brasileira. A situação do Iêmen também é motivo de preocupação, pois envolve uma rota crucial para o transporte marítimo e essa questão vem elevando os custos de frete. Além disso, com a inflação pressionada em algumas regiões do mundo, as políticas monetárias contracionistas e, ainda, a incerteza sobre o início e a intensidade do ciclo de queda das taxas de juros são fatores de preocupação.

Brasil

Na última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), realizada recentemente, a comunicação do Banco Central (BACEN) manteve-se em linha com as expectativas, refletindo uma continuidade da postura adotada na
reunião de dezembro. Nesse contexto, o BACEN reafirmou a perspectiva de um ritmo mais adequado de cortes na taxa de juros, sugerindo uma redução de -0,50% para as próximas reuniões. É importante ressaltar que a decisão de manter o patamar de juros contracionista indica a preocupação persistente com a estabilidade econômica e o estímulo à atividade econômica. O BACEN, ao adotar essa abordagem, busca fomentar o crescimento, considerando o cenário macroeconômico atual.

Além disso, o Copom optou por manter as projeções de inflação inalteradas em 3,5% para o ano de 2024 e 3,2% para 2025 no cenário de referência. Essas projeções são baseadas em premissas que incluem a trajetória para os juros da pesquisa Focus e a expectativa de que o preço do petróleo seguirá a curva futura. O resultado geral da comunicação do Copom foi caracterizado como neutro, indicando uma postura cautelosa e equilibrada diante do cenário  econômico. A decisão de manter as projeções de inflação inalteradas, juntamente com a sinalização de cortes graduais na taxa de juros, reflete a busca por um equilíbrio entre o estímulo à economia e o controle inflacionário. Como desdobramento dessa postura, a taxa de juros foi reduzida para 11,25%, demonstrando o compromisso do BACEN em buscar medidas que impulsionem a atividade econômica de forma sustentável.

Essa queda na taxa de juros visa contribuir para o fortalecimento da recuperação econômica, considerando as condições atuais do mercado e as projeções futuras.

Inflação: No ano de 2023, o IPCA revelou um segundo ano consecutivo de desaceleração, encerrando o período em 4,62%, abaixo do limite superior da meta estabelecida, que era de 4,75%. Esse movimento foi impulsionado pela
marcante desaceleração nos preços de alimentação no domicílio e bens industriais, além do aumento mais moderado nos serviços. Contudo, os preços administrados, como gasolina, energia elétrica e planos de saúde, exerceram
pressão ascendente sobre o indicador, referência para o regime de metas. Diante disso, o desempenho do IPCA em 2023 revelou uma inflação menos disseminada e núcleos menos pressionados, proporcionando margem para o
Banco Central iniciar, em agosto do ano passado, um ciclo de redução das taxas de juros.

Em relação ao Ibovespa, principal índice da bolsa de valores brasileira, este enfrentou dificuldades em janeiro, encerrando o mês com uma queda de 4,79%, marcando o desempenho mais fraco desde agosto e o pior janeiro
desde 2016, quando registrou uma queda de 6,79%. Embora tenha havido uma tentativa de recuperação no último pregão, com um modesto aumento de 0,28%, o acumulado refletiu os desafios enfrentados.

 

A queda observada pode ser atribuída em parte ao fim do tradicional “rali de fim de ano”, período em que os investidores buscam oportunidades no mercado de ações. No entanto, diversos fatores contribuíram para o
desempenho negativo. Em termos macroeconômicos, as incertezas em relação à redução dos juros nos Estados Unidos, as preocupações com o cenário fiscal brasileiro e as dificuldades de crescimento da China foram
citadas como influências negativas.

Na perspectiva microeconômica, destacam-se a desvalorização acentuada das ações de commodities, como as da Vale, e o pedido de recuperação judicial da Gol.

Além disso, a moeda americana encerrou o mês com uma valorização acumulada de 1,75% em relação ao real.

1. Estratégia das Carteiras

Seguimos com maior exposição nos títulos pré-fixados e nos títulos indexados a inflação + Cupom, em razão da continuidade do ciclo de corte de juros no Brasil. Diante do exposto, a política de maior exposição a renda variável
permanece respeitando a mesma estrutura de alocação.

2.1 Renda Fixa

Continuamos privilegiando os títulos públicos federais e, em maior grau, as emissões privadas bancárias, com intuito de aproveitarmos os maiores prêmios pelo risco, devido a tendencia de queda dos juros. Para o mês de março, a estratégia para otimização dos resultados mediante da queda dos juros será alocar de forma gradual, também, em Debentures de emissão de empresas listadas em bolsa de valores (governança), contudo, mantendo a qualidade do risco de crédito da carteira. Nesse sentido a duration da carteira deverá subir de 1 ano e 6 meses para 2 anos 6 meses, mesmo assim, classificada como “curto prazo”.

2.2 Renda Variável

Nas carteiras de ações as alocações permanecem prestigiando os setores essenciais, entretanto, aumentamos as posições nas empresas mais sensíveis a queda dos juros, como as do setor de varejo, de construção civil e de  educação. A proporção de caixa (proteção) no momento encontra-se na ordem de 10% da carteira.

Carteira internacional

Cabe relembrar que a partir de outubro de 2023 realocamos as posições de curtíssimo prazo (BIL) para títulos de médio e longo prazos, com duration entre 7 e 10 anos e entre 10 e 20 anos, otimizando os resultados em razão da
perspectiva de corte de juros nos EUA a partir do mês de maio de 2024.

2. Conclusão

O cenário doméstico demanda maior rigor no monitoramento das contas públicas, as quais apresentaram um desempenho ruim ao longo de 2023. A expectativa gira em torno de um ponto de inflexão, o que poderá reduzir as
tensões de mercado. O cenário de curto prazo segue inalterado com relação a continuidade dos cortes da Taxa Selic, possibilitando ganhos relevantes, contudo, o ponto de alerta sobre a condução da Política Fiscal permanece em
constante revisão.

Quanto ao cenário internacional, as economias do Reino Unido, da Alemanha e do Japão entraram, simultaneamente, em recessão técnica. Por um lado, indica que os juros deverão arrefecer, mas, por outro lado teremos menor demanda global. Com juros estagnados os títulos do Brasil seguem extremamente atrativos e não deveremos ter interrupção do fluxo de capital estrangeiro no curto prazo, tanto para a renda fixa como para a renda variável.

A gestão segue priorizando a preservação de capital e o rigoroso controle de riscos. A disciplina na busca por ativos de qualidade com fundamentos fortes encontra-se preservada.

Renan S. Silva
Gestor, CGA

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