Carta do Gestor Jun/Jul – 2024

Cenários e perspectivas

1. Cenário Econômico Internacional

Nos EUA os dados de atividade econômica no mês de junho apresentaram sinais de desaceleração. O Produto Interno Bruto – PIB cresceu 1,4% no primeiro trimestre de 2024, o menor crescimento trimestral desde o segundo trimestre de 2022. Além disso, o Purchasing Managers’ Index – PMI ficou abaixo dos 50 pontos no período de março a junho, indicando desaceleração. O mercado de trabalho também sinalizou um resfriamento na contratação de mão de obra, com o Payroll, registrando a criação de 206 mil vagas de emprego, um nível abaixo da média anual. A taxa de desemprego teve uma leve alta em junho, chegando a 4,1% ante 3,95% em maio. Já a inflação apresentou um resultado positivo em junho, com o índice de preços ao consumidor desacelerando para 3% em uma comparação anual, o menor nível desde o aperto monetário do FED em 2022. Esses dados são favoráveis para que o FED corte a taxa básica de juros no final do ano, já que um mercado de trabalho desacelerando indica que o consumo deve diminuir nos próximos meses, resultando em uma possível inflação menor até o final do ano.

Na Zona do Euro após o primeiro corte de juros devido à fraca atividade econômica na Alemanha, a atividade econômica da região continuou desacelerando. O PMI no primeiro trimestre apresentou níveis abaixo do necessário para uma recuperação econômica. A inflação de junho apresentou uma leve desaceleração, caindo para 2,5% ante 2,6% em maio. O BCE sinalizou cautela nas próximas decisões do comitê, deixando claro que não haverá nenhuma mudança na reunião de 18 de julho devido ao risco de a inflação de serviços e produtos ainda permanecer em um patamar elevado e podendo subir ao longo do ano. O BCE afirmou que só realizará um novo corte após ganhar mais confiança na trajetória da inflação.

Na China, a economia ainda continua frágil. O PMI de serviços teve uma forte queda entre maio e junho, passando de 54 pontos para 51,2 pontos, sinalizando uma diminuição no consumo. As pressões sobre os preços diminuíram, com as empresas aumentando seus encargos apenas de forma fracionada, em meio à queda da inflação dos custos de insumos em junho. O mercado de trabalho se mantém constante, com uma taxa de ocupação de 5%, porém, com a dificuldade econômica, a tendência é de contratar menos ao longo do ano. As desconfianças quanto à sustentabilidade do modelo de crescimento chinês ainda pesam devido à crise imobiliária e à recente guerra tarifária, além da redução dos investimentos diretos no país.

Cenário Econômico Doméstico

No Brasil, a economia vem crescendo em ritmo acelerado, com bons resultados em diversos indicadores, como o PMI, vendas no varejo e concessão de crédito para pessoas físicas. Esse crescimento é influenciado principalmente pelo aumento dos gastos fiscais do governo. No mercado de trabalho, os dados mostram aquecimento, com a taxa de ocupação atingindo 7,1%, o menor nível desde o início de 2014. A inflação em junho surpreendeu positivamente o mercado, registrando uma variação mensal de 0,21%, abaixo das projeções dos agentes de mercado. No ano, o IPCA acumula alta de 2,48% e, nos últimos 12 meses, de 4,13%. Apesar dos bons resultados, há sinais de desancoragem da meta de inflação devido a anúncios não sustentáveis de política fiscal e ao cenário externo.

O Banco Central decidiu manter a taxa de juros em 10,50% no último COPOM, indicando que o crescimento econômico pode ser limitado a longo prazo por uma política monetária restritiva. As estimativas futuras para a Taxa Selic são incertas, mas o colegiado do comitê sinalizou seu compromisso em cumprir a meta de inflação. O presidente do Banco Central confirmou que o atual patamar da taxa de juros é adequado para alcançar a meta, não havendo necessidade de mais um aperto monetário no momento.

O mês de junho foi marcado por um stress adicional relacionado a eventos políticos, em especial as falas do Presidente da República reforçando a política expansionista por meio de aumento dos gastos do Governo em uma métrica inviável. Por consequência, a taxa de câmbio atingiu R$ 5,70 extremamente nociva para a economia, dada nossa forte dependência de insumos de valor agregado para a nossa produção. A curva de juros futura seguiu influenciada pelo comportamento do cambio de elevada volatilidade. Na contrabalança, no início do segundo semestre o Executivo cedeu as críticas e a queda da sua popularidade, reforçando seu compromisso com o equilíbrio fiscal. Não obstante, segue reforçando sua vocação de indutor da economia. No computo, o mercado registrou menor aversão ao risco, resultado em alta da bolsa e queda dos juros futuros.

2. Estratégia das Carteiras

2.1 Carteira de Renda Fixa

Mantivemos a estratégia de adquirir títulos pós-fixados de emissões privadas aproveitando maiores prêmios pelo risco, explicada pela compressão nas taxas pré-fixadas ao mesmo tempo em que o Copom/Bacen interrompeu o ciclo de corte da taxa Selic em 10,5% a.a.

No segundo semestre, os vencimentos de títulos em carteira serão realocados parcialmente, na ordem de no máximo 10% do PL, serão realocados em títulos de crédito do setor privado aproveitando o stress verificado na “ponta longa” da curva de juros futura. Vale frisar que a duration dos novos títulos não deverá ultrapassar 4 anos, sendo que os emissores deverão apresentar forte capacidade de pagamento.

2.2 Carteira de Renda Variável

Mesmo com a melhora sensível do humor de mercado, justificados pelo no “tom” do Governo com relação ao compromisso fiscal, permanecemos privilegiando os setores essenciais (mineração, petróleo, energia elétrica, bancos, seguradoras, telecomunicações, alimentação, fármacos) investido em empresas com forte geração de caixa, associada a bons upsides sobre o preço de mercado atual.

As proteções adquiridas no decorrer do mês de junho foram desfeitas a partir do dia 21/6, devido a melhora parcial dos indicadores macroeconômicos. Cabe reforçar que de 21/6 até hoje (11/7) o Ibovespa registrou alta de 9,4%, corroborando como o movimento estratégico.

2.3 Carteira internacional

Nos EUA o S&P500 continua auferindo ganhos expressivos, em razão da economia robusta ao mesmo tempo em que as expectativas de corte de juros por parte do FOMC aumentaram. Nas carteiras internacionais prevalece a maior aderência ao S&P500 e investimentos em empresas com retornos sobre investimentos (ROIC) elevados e bons fundamentos. Na medida em que o mercado antecipa o corte de juros nos EUA fortalecendo a bolsa de valores, aumenta a probabilidade de a estratégia realizar parte do lucro auferido, evitando a exposição a sobrepreços, entretanto, mantendo posições relevantes com vistas no longo prazo.

Na renda fixa, mantivemos a postura de aproveitar o stress na curva de juros, relativo ao adiamento do corte de juros, investindo em títulos com durations mais curtos, os quais têm apresentado ganhos históricos relevantes em dólar, contudo, essa torna-se natural o alongamento das operações ao longo do segundo semestre, em razão do arrefecimento da curva curta, com a melhora das expectativas quanto ao afrouxamento monetário a vista.

3. Conclusão

Mesmo com o cenário doméstico apresentando risco elevado, justificado pela alteração da meta fiscal e a deterioração da relação dívida/PIB, ao final do mês, o Governo sinalizou com um ponto de inflexão, indicando maiores esforços no controle dos gastos a verificar. Adicionalmente, os efeitos da tragédia ambiental no Estado do Rio Grande do Sul, agora mensuráveis, deverão comprimir o PIB marginalmente.

As perspectivas quanto ao cenário internacional melhoraram com o início do corte de juros na Zona do Euro e a maior probabilidade de que os cortes juros nos EUA poderão ocorrer a partir de setembro de 2024, o que deve motivar a inversão do fluxo financeiro para bolsa brasileira.

A gestão segue priorizando a preservação de capital e o rigoroso controle de riscos. A disciplina na busca por ativos de qualidade com fundamentos fortes encontra-se preservada.

 

Renan S. Silva
Gestor, CGA

 

 

 

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